Com dedos mágicos, um sorriso humano pode ser posto num amigo de tecido
Eu sou daquelas pessoas irritantes, que acordam bem dispostas logo de manhã.
Que quando chove e se molha, não fica irritada, mas desata a cantar e a
dançar nas poças.
Talvez por a minha natureza ser assim, que quando comecei a escrever,
desenhar e a fazer os meus bonecos de tecido, queria essencialmente espalhar
felicidade e sorrisos por aí.
Quando conheci o trabalho da Aurore McLeod através do Instagram, senti que
éramos uma espécie de ‘almas gémeas’ a tentar trazer mais alegria a este mundo
às vezes tão cinzento.
A Aurore tem 32 anos, é francesa e
de momento vive em Launceston, uma cidade na ilha da Tasmânia, na Austrália.
Ela criou a sua marca ‘Friends in the Leaves’ e eu estive à
‘conversa’ com ela. Querem conhecê-la? Então venham daí comigo…
Foi difícil ser
francesa e ir viver para a Austrália?
Aurore McLeod
(AM): Deixar para trás os meus amigos e a minha família foi bastante difícil, mas
eu mudei-me para a Austrália para ir viver com o que era na altura o meu
namorado, e isso fez com que valesse a pena e que também fosse mais fácil de
aguentar!
Houve alguma
espécie de choque cultural na altura?
AM: Nem por isso.
Espantou-me o facto das pessoas serem tão simpáticas na Austrália. Não que os
franceses não sejam simpáticos, mas em França não se falaria com um estranho
tão facilmente. Os australianos são mais abertos. Mas a mania que eles tem de
abreviar as palavras e os nomes com um ‘o’ deixa-me de ‘cabelos em pé’!
Qual é a origem
do nome ‘Friends in the Leaves’ (amigos nas folhas)?
AM: Foi o meu marido
que teve a ideia no nome final. Eu comecei a coser animais e tinha decidido que
o meu logo ía ser uma folha. Pensei em ‘my boots in the leaves’ (as minhas
botas nas folhas) mas o meu marido sugeriu que os animais eram mais como
amigos. E assim nasceu o ‘Friends in the Leaves’.
Foi a Aurore a
desenhar o seu próprio logo?
AM: Sim. E tenho
muito orgulho! É uma raposa e uma folha, acho que não podia ter tido uma ideia
melhor. A minha irmã ajudou-me com a parte digital do processo, porque eu não
sou muito boa com o Adobe Illustrator.
Por quê que começou a fazer os seus bonecos de
tecido e as ilustrações?
AM: Em 2008 eu
descobri uma artista francês que fazia brinquedos e lindos animais, e depois
kits de costura e ilustrações baseados neles. Ela até tinha o seu estúdio em
Paris e inspirou-me. Acho que foi o facto de ela ter criado o seu próprio
universo, que me atraiu. Eu decidi experimentar fazer um molde e foi assim. As
ilustrações surgiram mais tarde. Já não desenhava a sério há algum tempo,
quando decidi ilustrar as pequenas etiquetas para os meus bonecos. Agora é mais
do que isso, eu pinto bastante e tenho um negócio à parte.
Que artistas a
inspiram?
AM: A maioria são
ilustradores contemporâneos, como Sha'an D'Anthes (Furry Little Peach), Rebecca Green ou Teagan White. Fico
boquiaberta com as suas capacidades e com o mundo que criaram. São a minha
inspiração para continuar a r e a fazer melhor.
Tem alguma
formação em Artes?
AM: Não, tenho
aprendido tudo sozinha. Fiz um curso de arte de 10 semanas em 2015, quando
recomecei a desenhar e com isso ganhei confiança. O professor era muito
entusiasta e encorajador em relação à minha arte, e isto fez com que eu
quisesse melhorar e partilhar o meu trabalho com os outros.
Trabalha a tempo
inteiro como artesã/artista?
AM: Sim. Sou muito
sortuda por me levantar de manhã e estar sempre feliz em relação ao dia que se
avizinha. Quando era adolescente/jovem adulta, não sabia bem que trabalho é que
queria ter mas sabia que não me queria levantar cedo de manhã e estar presa nos
transportes públicos e no trânsito como aconteceu com o meu pai – e ainda
acontece, coitado!
Que tipo de
materiais usa no seu trabalho? Por quê?
AM: Para os bonecos
uso uma série de materiais, na maioria 100% feltro de lã por ser mais forte e
não se desfiar facilmente. Também uso algodão e ‘Shannon minky’ que é maravilhosamente macio e faz com que os
bonecos fiquem extra fôfos. Nas minhas ilustrações trabalho com aguarelas e
guache e papel de muito boa qualidade.
No futuro gostava
de experimentar novas técnicas nas suas peças?
AM: Adorava aprender
cerâmica. E também gostava de tentar fazer esculturas macias das minhas
criaturas. Já fiz algumas tentativas mas preciso de perder mais tempo para
fazer as esculturas pormenorizadas que tenho em mente.
O que é que
pretende transmitir com a sua arte?
AM: Essa é uma boa
questão e ainda não tenho bem a certeza de que tenha uma resposta. Eu sei que
adoro fazer as pessoas sorrir e imaginar histórias, tanto com as minhas
pinturas como com os meus bonecos. Mas também sinto que pinto muito por mim
mesma. Tenho centenas de ideias na minha cabeça e elas precisam de ser postas
em papel. Recentemente, tenho andando a pensar muito na minha arte e na
costura, no por quê de fazer o que faço e de que forma poderia ainda ter mais significado.
Já alguma vez
publicou um livro ou fez ilustrações para um livro de crianças?
AM: Sim. Fiquei tão
orgulhosa quando a Kris Sheather me pediu para ilustrar o seu livro chamado ‘BedtimeBilby’. Saiu em Janeiro. Recentemente tomei a decisão de investir na
minha carreira de artista a quase tempo inteiro. Desejem-me boa sorte!
A sua filha mais
pequena – que é quase da idade da minha – também quer ter todos os seus bonecos
e brincar com eles?
AM: Ela chama-se Emma
e é rabugenta e muito querida. Ela quer abraçar e dar beijinhos neles antes de
os mandar embora. Às vezes fica um pouco desapontada porque quer ficar com
alguns deles.
Onde vende o seu
trabalho maioritariamente?
AM: Vendo o meu
trabalho maioritariamente na minha loja no Etsy mas também vendo algumas
ilustrações e alguns bonecos em lojas físicas na Tasmânia. Há uma livraria para
crianças em Victoria (Pickwick andSprout) que também vende os meus postais.
Certificou os
seus bonecos com a marca CE; como é que o fez? Como é que se desenrola todo o
processo? Foi caro? Tem de certificar cada boneco que faz?
AM: Quando estava a
viver na Escócia eu tinha de garantir que os meus bonecos estavam de acordo com
os standards de segurança da Europa antes de os poder vender. Não havia muita
informação disponível na altura, mas tive muita sorte de encontrar um grupo no Facebook
(CE Marking Handmade Toys Collective)
que se dedica a testar directamente. Eles criaram um kit que ajuda as pessoas
ao longo de todo o processo, que envolve muitos puxões com pesos e queimaduras!
A única parte que não consegui fazer sozinha envolvia testes químicos aos
vários materiais e foi aí que o grupo de Facebook se tornou útil. Felizmente
não tenho de certificar cada boneco, só cada modelo/design que faço.
É fácil
equilibrar o tempo que passa a fazer os seus trabalhos e o tempo que gasta nas
redes sociais a promove-los?
AM: Não posso dizer
que ache muito difícil, mas por outro lado também não os promovo muito nas
redes sociais. Não sou muito boa a auto-promover-me em geral. O que acho que é
difícil é evitar perder muito tempo nas redes sociais. Eu distraio-me com muita
facilidade.
Que rede social
prefere? Por quê?
AM: Passo a maior
parte do tempo no Facebook e no Instagram. Gosto de ambos por razões
diferentes. Adoro o Instagram por ser visualmente apelativo e gosto de ver o meu
trabalho na galeria, mas acho mais fácil interagir mais no Facebook devido aos
grupos todos aos quais pertenço.
Que método acha
que é melhor para ganhar novos seguidores?
AM: Sejam autênticos
e partilhem o vosso trabalho onde é apropriado. E por favor não sigam pessoas
no Instagram
e depois deixem de as seguir se elas não vos seguirem de volta. Eu acho que é
falta de educação e pouco autêntico e irrita-me.
Acha que ter mais
seguidores equivale a ter mais vendas?
AM: Pode ser o caso
mas depende. Se esses seguidores forem o vosso mercado-alvo sim, mas se vos
estiverem a seguir sem nenhuma intenção então obviamente que não. Os seguidores
são importantes quando estão interessados em nós e no nosso produto. Eles apoiam
com os seus comentários, ‘likes’,
partilhas, etc e isso é tão valioso quanto qualquer venda.
Vai a algumas
feiras/mercados? Quais?
AM: No ano passado
fui à Feira de artesanato da Tasmânia,
a feira de artesanato maior na Austrália. Foi fantástico! É um evento de quatro
dias e este ano, queria passar o tempo no meu próprio livro em vez de estar a
preparar-me para este grande evento. Agora tenho uma ideia para um livro, mas
ainda não passou disso. Também costumo ir ao Mercado de Niche em
Launceston, que é um dos melhores mercados de artesanato na Tasmânia. Vou estar
lá no dia 2 de Dezembro. Gostava de participar em mais mercados mas só tenho um
carro pequeno, que não dá jeito para transportar tudo. Para além disso, não
gosto de me levantar cedo para começar os mercados às 8 da manhã.
Escreveu que
imagina as personalidades dos seus bonecos enquanto os está a fazer; o mesmo
acontece comigo, por isso entendo perfeitamente; também imagina as suas
histórias?
AM: Às vezes sim.
Tudo depende do meu estado de espírito quando estou a coser. Às vezes coso
tanto que infelizmente não tenho tempo para relaxar e imaginar as suas
histórias. Noutras vezes há algo de particularmente engraçado ou querido no
boneco que estou a fazer na altura, e o inicio de uma história vem-me à cabeça.
Como é que lhe
surgiu a ideia de fazer as cabeças dos bonecos como uma espécie de retrato para
pendurar na parede?
AM: Eu queria fazer
retratos dos meus bonecos. Na altura não desenhava nem pintava há algum tempo e
todas as ilustrações que tentava fazer não eram boas o suficiente. Depois
tentei fazer um retrato usando a técnica do aplique que também não funcionou.
Até que um dia a ideia surgiu de repente.
Que conselho pode
dar a novos artistas/artesãos que estejam a tentar viver da sua arte?
AM: Tentem! Se querem
experimentar tentem poupar algum dinheiro e decidam um prazo até ao qual querem
ver se dá certo. É bastante trabalhoso e para ser sincera, eu e a minha família
não estamos assim tão bem financeiramente mas tenho esperança. E se não der
certo, pelo menos tentaram!
Sigam o trabalho da Aurore nos links abaixo e sorriam com os seus amigos de tecido e ilustrados :
Vamos tornar este mundo mais doce e alegre?
Os sorrisos são contagiosos, por isso vamos espalhá-los por aí,
Sara
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