Não adoravam cobrir-se com um cobertor de estrelas? - entrevista a Dan Tavis
De certeza que já vos aconteceu
chegarem a um sítio, e terem a sensação que sem querer estão a interromper
alguma coisa… Não quero dizer que seja algo de embaraçoso, mas algo importante.
É exactamente isto que sinto
quando vejo os trabalhos do Dan Tavis.
Cada aguarela que este estudante
universitário americano de 23 anos de Dunbarton, New Hampshire, faz parece
levar-nos a uma pequena história, sejam as personagens humanas ou animais.
‘Morning Breath’ (Hálito da Manhã’) de Dan Tavis |
E claro que a minha mente curiosa
se questiona logo do por quê daquela raposinha estar ali encostada àquela
árvore, com ar de quem está à espera de alguém, quase como se estivesse na
paragem de um autocarro que fizesse viagens extraordinárias pelo bosque.
Nota-se também um pouco a
influência das tiras do Bill Watterson do ‘Calvinand Hobbes’, que são das suas favoritas, nos tons usados, na ligação
das personagens humanas com os animais – a inocência das crianças e os laços de
amizade com os seus peluches, por exemplo – e na expressão tão honesta dos seus
olhares e gestos.
Querem saber um pouco mais sobre
ele e o seu trabalho? Então venham daí comigo ‘ouvi-lo’…
O Dan a trabalhar |
Acha que por ser ilustrador, que deve usar o seu próprio nome como logo
ou que pode ser um nome completamente diferente?
Dan Tavis (DT): Eu acho que depende do artista, mas acho que faz
mais sentido ter o próprio nome no logo. Faz com que seja mais fácil encontrar
o nosso trabalho como ilustrador se o incluirmos.
O seu logo foi desenhado por si?
DT: Sim, fui eu que desenhei o meu logo e a personagem no meu logo
é uma das primeiras que pintei quando comecei a usar aguarelas.
‘Calvin & Hobbes’ de Bill Watterson |
Por quê que começou a pintar?
DT: Desde criança que sempre gostei de desenhar e de animação. Mas
eu quis aprender a pintar depois de ter visto uma tira incrível do Bill
Watterson do ‘Calvin and Hobbes’. As suas tiras
diárias são brilhantes e as suas tiras em aguarela ao domingo são obras-primas.
Que artistas o inspiram?
DT: O Bill Watterson, NormanRockwell, E.H. Shepard, Chris Riddell, Shaun Tan, entre muitos outros.
Tem algum background em
artes?
DT: Eu tive uma ou duas aulas no liceu e depois do liceu tive mais
umas aulas numa universidade comunitária local durante dois anos, e depois fui
para o ‘Instituto de Arte de New Hampshire’ por dois semestres. Mas
posso dizer que a maior parte do que aprendi foi a desenhar todos os dias e a
praticar sozinho. A escola dá-nos um pequeno salto criativo para o mundo da
arte, mas a maior parte do que aprendemos vem da nossa prática.
‘Me, you, and fishing too' (Eu, tu e a Pesca) de Dan Tavis |
O que pretende transmitir aos outros com a sua arte?
DT: Se uma das minhas ilustrações deixa alguém com um sorriso, ou
as faz lembrar das suas aventuras de
criança, então a minha missão foi cumprida.
Por quê que escolheu ilustração?
DT: Não fui bem eu que a escolhi, foi ela que me escolheu a mim.
Não me imagino a fazer outra coisa.
Que tipo de materiais usa no seu trabalho?
DT: Eu uso aguarelas e tinta à prova de água. As aguarelas e a
tinta são muito fáceis de preparar, limpar e pintar. Além disso, a maior parte
dos meus artistas preferidos usam aguarela e tinta e por isso eu também gosto
tanto.
Quando faz uma ilustração a aguarela, depois aperfeiçoa-a digitalmente?
DT: Não posso dizer que a aperfeiçoo digitalmente depois, mas
edito-a no ‘Lightroom’ ou no ‘Photoshop’. Por exemplo, posso
aumentar ligeiramente a saturação ou as sombras para se assemelhar mais ao
original ou para tirar alguém pó do scanner.
Uma das minhas coisas preferidas nas aguarelas é o ser imperfeito. Tem um toque
humano que me parece que a arte digital normalmente tem falta.
Mencionou que gostava de praticar a ilustração digital; quais é que
acha que são os obstáculos maiores que se têm de ultrapassar quando se desenha
neste tipo de material?
DT: Para mim, é tão confortável e dá-me tanto prazer a forma
tradicional, que pintar digitalmente é estranho. Uma das coisas que eu acho que
é difícil é a vasta opção que o digital proporciona. É assoberbante, mas
devagar ganho-lhe o jeito.
Gostava de experimentar animação?
DT: Sim! Adoro animação desde que era pequeno e adorava fazer parte
de um projecto de animação no futuro.
Já alguma vez ilustrou um livro?
DT: Sim, ilustrei um livro para um autor que fez uma edição de
autor há algum tempo atrás, mas ainda nada para uma editora.
'Forest Friends' (Amigos da Floresta) de Dan Tavis |
É representado pela Ginger
Knowlton da Curtis Brown Ltd;
acha que é importante ter um agente literário? Por quê?
DT: Não é fundamental nos dias de hoje devido a estarmos numa
sociedade tão dependente das redes sociais, por que como ilustrador ou autor
podemos promover o nosso próprio trabalho com bastante sucesso, mas ter um
agente ajuda. Tira muita da pressão do ilustrador sente quando tem de promover
o seu trabalho, decidir contractos, e também é bom ter alguém que está lá para
nos apoiar.
O que faz um agente literário?
DT: Um agente promove o trabalho dos ilustradores e tem ligações
com as maiores editoras da indústria. Um agente também explica os contractos ao
ilustrador e negoceia os termos/preço com as editoras para que os ilustradores
tenham o melhor acordo possível. Eles promovem o nosso trabalho, se nós nos dermos
bem eles também se dão.
Procurou um agente ou foi abordado por alguém?
DT: Eu nunca procurei um agente, mas o meu trabalho foi mostrado à
Ginger por alguém que o viu no Instagram.
Pode dar algum conselho a novos artistas que estejam à procura de um
agente?
DT: Não se preocupem em arranjar um. Continuem a aprender, a criar,
e partilhem o vosso melhor trabalho. Quando o vosso portefólio for bom, os
agentes é que os vão começar a contactar.
Costuma andar sempre com um bloco de desenho para onde quer que vá?
DT: Não ando sempre com um bloco mas estou sempre a pensar em
ideias para ilustrações, e a tomar notas mentais ou rabiscos num pedaço de
papel durante o dia. Não há nenhum momento em que não esteja a pensar em arte,
personagens, e caminhos por onde posso ir na minha carreira em ilustração.
As pessoas normalmente associam a ilustração a livros de criança; não
acha que deveria haver mais livros ilustrados para adultos?
DT: Sim, acho. Se ainda não existe eu acho que deveria existir um
mercado para um estilo mais adulto de ilustração, no formato de 32 páginas ou
maior.
Onde vende maioritariamente o seu trabalho?
DT: Eu vendo o meu trabalho no Etsy e em algumas lojas e livrarias
locais.
É difícil equilibrar o tempo que se gasta a trabalhar na sua arte e o
tempo que se despende nas redes sociais a promove-los?
DT: Sim, é um desafio. Acredito que é importante termos tempo para
criar ilustrações bonitas, mas como ilustrador tem de se postar o seu trabalho
consistentemente para que os seus seguidores aumentem em vez de diminuírem. É
algo que eu ainda tenho de aperfeiçoar.
Que rede social prefere? Por quê?
DT: Eu prefiro o Instagram. Podemos chegar a uma
vasta audiência de pessoas criativas em todo o mundo, bem como ganhar uma
incrível inspiração através de outros ilustradores e designers. Já fiz alguns
trabalhos de freelancer de pessoas que viram o meu trabalho no Instagram.
'On Snow Patrol' (Em Patrulha da Neve) de Dan Tavis |
Que método é que acha que é melhor para ter mais seguidores?
DT: A consistência é fundamental para ganhar uma audiência. Se
conseguirem postar duas vezes por semana é óptimo! Até mesmo uma vez por semana
é bom, mas temos de ser consistentes. Outra coisa importante é postar o vosso
melhor trabalho. Podem postar sete dias por semana mas se o que postarem não
tiver brilho e for apressado, as pessoas vão notar e os vossos seguidores não
vão aumentar tanto como gostariam.
Acha que mais seguidores leva a mais vendas?
DT: Os seguidores ajudam até um determinado ponto, mas eu prefiro
ter menos seguidores mas que interajam, do que muitos seguidores sem
interacção. E não acho que ter mais seguidores seja a forma certa de abordar as
redes sociais. Na minha opinião, focarmo-nos em criar boa arte é o que vai
levar a mais vendas em geral. Preocupem-se em produzir uma qualidade
excepcional e vão ter sucesso. Preocuparem-se em ter mais seguidores a toda a
hora vai-vos tirar tempo para se dedicarem ao vosso trabalho.
Já alguma vez participou em alguma feira para vender o seu trabalho?
DT: Não, mas talvez vá no futuro.
Vende originais e impressões?
DT: Sim, vendo alguns dos meus originais em lojas locais e talvez
comece a fazê-lo na minha loja no Etsy ou no meu site.
Foi difícil encontrar um sitio onde pudesse imprimir as suas
ilustrações originais, com uma boa relação qualidade-preço?
DT: Eu imprimo o meu próprio trabalho numa Epson Sure Color 600.
Ainda não experimentei gráficas, mas
possivelmente no futuro se fizer convenções ou mercados.
É-lhe difícil decidir o preço para os seus trabalhos? Que tipo de
fórmula utiliza para o calcular?
DT: É difícil dar um preço ao meu trabalho, mas eu calculo o preço
pelas horas que trabalhei + o tamanho do quadro + materiais que usei para o
criar. Mas se for muito difícil calcular assim, penso que quantia é que alguém
teria de me oferecer para eu o vender, e não sentir que não tinha ganho o
suficiente com a venda.
Rapariga a ler sobre livros de Dan Tavis |
Que conselho é que pode deixar a novos artistas que estejam a tentar
viver da sua arte?
DT: A Arte é a viagem de uma vida, sem atalhos. Pratiquem,
pratiquem, pratiquem!
De certeza que depois desta entrevista e de terem visto exemplos do seu
trabalho, que vão ficar a pensar no que é que o Dan estará a fazer daqui a uns
cincos anos, dado aquilo que já fez até agora, não é verdade?
Fiquem atentos ao seu Instagram,
Etsy e site, e de certeza que
vão ficar com um sorriso depois de verem cada aguarela, eu pelo menos fico
feliz…
Fiquem felizes e sorriam sempre,
Sara
Nota: Todas as fotografias acima,
tirando a do ‘Calvin and Hobbes’, são do Dan Tavis e ilustram-no a ele e ao seu
trabalho.
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