Conseguem agarrar a água? - Sean Ruttkay
Já alguma vez sentiram que os vossos
sentidos os enganam? Como acontece naquela experiência de por exemplo cheirar
uma banana enquanto trincamos uma maçã e nos parecer mesmo que estamos a comer
uma banana.
Bem, isto acontece-me frequentemente
quando olho para as fotografias do Sean Ruttkay, de 36 anos de Wrightsville Beach, Carolina
do Norte, nos Estados Unidos. Ele consegue fotografar ondas em que parece que
as podemos agarrar com as mãos, como se não fossem feitas de água.
Numa altura
em que temos acesso a tanta tecnologia e, quase todos tiram milhares de
fotografias com o seu telemóvel, algo que parece tão banal como uma fotografia
do mar pode-se tornar mágico se for tirada por mãos e olhos experientes que vêm
o mundo de forma diferente.
Continuo a
olhar para uma das fotografias e apetece-me tocar naquela onda. Parece feita de
uma goma ou gelatina especial, que embora sem cheiro ou sabor, podemos moldar
com as mãos.
Como é que se
consegue capturar momentos assim? Como sabemos onde estar e o que as ondas vão
fazer a seguir? Será que é mesmo água?
Vamos pedir
ao Sean que nos explique isto um pouco melhor…
Qual a origem do nome ‘Edasurf’?
Sean Ruttkay (SR) - Em 2005, enquanto procurava o nome que haveria de dar à minha aventura artística,
decidi chamar-lhe ‘Elemental Digital Art’.
Na altura era gerente numa empresa de piscinas e confidenciei isto a um dos
meus colaboradores de 14 anos, e ele disse-me que era um nome muito longo para
a internet. Na altura não liguei e demorou cerca de um ano até me aperceber que
aquilo era verdade, e no fim tornei-o num logo que ficasse no ouvido e ficou um
acrónimo e adicionei a palavra surf por ter tudo ver com o conceito da marca –
afinal de contas está tudo ligado ao surf e ao espírito da praia.
Foste tu que criaste o teu logótipo?
SR - Até
determinado ponto, eu fui mais quem teve a ideia. O meu pai é um artista
profissional especializado no design de logos e pedi-lhe se me criava um logo
inspirado nos anos 80. Depois pedi à minha estagiária da altura, que colocasse
cores de uma tábua de skate Powell de 1986.
Por quê que começaste
a fotografar?
SR - Inicialmente
precisava de conteúdo para fazer peças de arte em grande escala que sejam à prova das condições climatéricas. Foi em
2005 e na altura ninguém produzia peças de arte em grande formato de
fotografias. O meu produto era único por ser completamente à prova das
intempéries. Neste caso, ‘a galinha veio antes do ovo’. Neste momento, agora é
uma forma de partilhar com outras pessoas o poder estético da água, da forma
como eu a vejo, e daí o fascínio por projectos só ligados à água.
Que artistas te
inspiram?
SR - Começando pelo topo, o meu pai, Andy Warhol,
Mark Rothko, Michelangelo, Michelle Duchamp,
Chuck Close, Richard Serra, Homer, Frederick Nietzsche, Herman Melville.
Quais são as maiores
influências no teu trabalho?
SR - Para que um
trabalho seja meu tem de passar no teste: é um trabalho centrado na água?
Tens algum background
em artes?
SR – Não tenho
licenciatura em Artes mas sim em Artes Liberais e um curso de professor
certidicado em dificuldades de aprendizagem. Com este meu passado aprendi a
estar constantemente a aprender e a passar várias horas por dia a investigar os
mais recentes e mais antigos pensamentos, seja na ciência ou literatura. Eu
acredito que a Arte para ser grande tem de tocar a grandeza do passado.
Trabalhas a tempo inteiro como artista?
SR – Sim,
trabalho a tempo inteiro nestes últimos 7 anos, dentro dos 12 em que a
companhia está a funcionar.
Usas lentes específicas
para fotografar o mar? Elas dependem da luz e da distância?
SR – Uso as
mesmas lentes que qualquer fotógrafo profissional deveria usar em terra. Cada
perspectiva dá uma nova visão do fluído. Dito isto, eu tenho uma caixa estanque
com entrada para cada tipo de lente.
É mais difícil
fotografar dentro de água?
SR - Eu sinto-me
mais confortável dentro de água em todos os níveis, especialmente quando a
actividade é criativa. Seja nadar, surfar, tirar fotografias ou sentar-me num
jacuzzi; eu noto que a água nos dá o estímulo criativo que temos na mente.
Achas que o facto de
seres surfista que te ajuda quando tens de decidir os melhores lugares para
fotografar?
SR – Acho que sim,
mas essencialmente diria que eu sei o que é que a ondulação vão fazer com antecedência,
dependendo da forma que tem. Só um surfista sabe isto porque é fundamental para
apanhar uma onda, seja para surfar ou fotografar.
Tu adoras as ondas e
surfar; já alguma vez fizeste uma prancha de surf ou decoraste uma?
SR – Quando estava
no liceu e jogava futebol, eu sonhava durante os treinos que um dia ia fazer
pranchas de surfe. Ia para a garagem dos meus pais cortar pranchas antigas e
modelá-las. No entanto, nunca segui essa direcção a 100% mas até hoje, eu faço
toda a parte física das minhas obras de arte, o que é muito como um artesão a
esculpir pranchas de surfe porque usamos as mãos para criar. Tenho o maior
respeito pelos moldadores de pranchas de surfe e acho que eles são verdadeiros
escultores.
Há materiais
específicos – lentes, câmaras, etc. – que um fotógrafo deveria ter para começar
a trabalhar nesta área?
SR – Eu acho que
se querem seguir este caminho, que só comprem o melhor equipamento. O produto
final vai reflectir isso. Eu só uso lentes CanonL e caixas estanques da AquaTech.
Estes materiais são os mais caros mas o resultado compensa todo o investimento.
No futuro gostavas de
experimentar outras técnicas nos teus trabalhos?
SR – Eu experimento
constantemente. Tenho muitos quadros, desenhos e até esculturas feitos por mim.
Embora a fotografia de grande escala seja aquilo que está no meu espaço comercial.
Parece tão fácil tirar fotografias ao mar mas
de certeza que para o conseguires capturar com aquela intensidade e texturas,
existem alguns ‘truques’; quais são?
SR – Eu diria que
não há truques mas sim um ponto essencial, sair e fazer pelo menos 1000
fotografias todos os dias e olhar para elas, tirar a melhor e coloca-la numa
pasta; passado algum tempo vão perceber que têm muito trabalho do qual estão
orgulhosos e que os outros vão achar interessante e relevante.
Eu sou portuguesa e
vivo em Portugal; já alguma vez visitaste o país? Com a chegada do Garrett
McNamara à Nazaré, e o facto de ele surfar as grandes ondas de lá, Portugal
ficou mais conhecido pelas suas grandes ondas; gostas de surfar ondas grandes
ou preferes a ligação um a um com a onda independentemente do deu tamanho?
SR – Já ouvi
falar muito bem de Portugal, embora nunca tenha lá estado. Eu adoro ondas
grandes e já estive no Havai mais de 16 vezes. As ondas grandes são das formas
mais mágicas e assustadoras da Terra. De momento vivo em Wrightsville Beach, na
Carolina do Norte, Estados Unidos, onde as ondas maiores podem ter 2 metros.
Por isso, a maior parte do tempo as ondas são pequenas. No entanto, uma onda
que tenha 30 cms vai-se comportar à escala e da mesma maneira que uma de 3, as
formas são as mesmas. Sabendo isto, quando se fotografa uma onda pequena com
uma série de lentes, a mesma textura, contornos, podemos tirar o mesmo prazer
estético de ambas as energias.
Onde vendes
maioritariamente o teu trabalho?
SR - Online,
no meu site.
É difícil equilibrar
o tempo que passas a fazer os teus trabalhos artísticos e o tempo que tens de
passar nas redes sociais a promove-las?
SR - Com
o Instagram eu acho fácil. No
entanto, acho difícil criar conteúdo escrito e em vídeo, que era onde gostava
de gastar mais do meu tempo daqui para a frente.
Que rede social
preferes? Porquê?
SR - O
Instagram
porque trabalho num espaço visual e comunico de uma forma visual. Também gosto
da natureza fluida da plataforma.
Que método é que achas que é melhor para ganhar mais seguidores?
SR - Criar uma
ligação com as pessoas e combinar isso com conteúdo de qualidade.
Achas que quanto mais
seguidores mais vendas?
SR – Se os
seguidores forem de qualidade, sim!
Fazes algumas feiras
de artesanato? Se sim, quais?
SR – Quando comecei
em 2005 antes de haver as redes sociais, sim mas agora não. Vivo somente do meu
espaço de venda digital.
Tens algum conselho
para dar a novas artistas/artesão que queiram viver da sua arte?
SR – Eu diria que
façam aquilo que vos enche a alma, bem cedo de manhã e bem tarde da noite e não
façam mais nada a não ser que já tenham atingido os objectivos que traçaram
para vocês próprios.
Conseguem imaginar serem donos de uma destas fotografias de
grande formato, e parecer que têm o mar dentro da vossa casa?
Vão espreitar o site do Sean e a sua conta do Instagram, @edasurf , vale bem a pena e depois digam-me se não vos apetece agarrar a água…
Aproveitem bem a vida e sejam felizes sempre,
Sara
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