Adoro árvores. Adoro a sensação de segurança que elas me
transmitem, como se fossem uma espécie de bisavós que já cá andam há muito
tempo, que cuidam de nós e têm muitas histórias para contar. Se conseguíssemos falar
com elas.
Para quem anda distraído, elas podem parecer mais ou menos
todas iguais, mas não são, de todo. Para além das diferenças óbvias entre um
pinheiro e uma palmeira, por exemplo, até as suas cascas são distintas – mais claras
ou mais escuras, mais rugosas ou menos, etc.
Como num apartamento não dá bem para ter uma árvore, os bonsais
sempre me fascinaram. Tudo neles me fascinava. O facto de serem pequenos, de
estarem em pequenos vasos que não tinham muita terra e de terem de ser podados
de uma forma especial. Cheguei a ter um mas a minha gata na altura foi comendo
as folhas todas e desisti.
Mas sempre dei comigo a pensar qual seria a sua origem, quem
teria tido a ideia de ter pequenas árvores e para quê.
Por incrível que possa parecer, a sua origem vem da China da
tradição do Penzai – daí a origem do nome bonsai - , que a partir do século VI
foi difundida para o Japão por estudantes budistas e de pessoas que trabalhavam
na embaixada do Japão nesse país.
Desde a Idade Média que os bonsais são muito representados
na arte japonesa, e isto está muito relacionado ao facto dos monges budistas
chineses ensinarem esta tradição aos letrados japoneses.
Tal como muitas outras coisas na cultura japonesa, tudo
parece ser pensado, racionalizado mas acompanhado de uma certa forma de ver o
belo. Até com a natureza tentam fazer isso.
Um bonsai não foi concebido para alimentar ou para produzir frutos ou folhas
medicinais, mas sim para ser contemplado, quase como que uma espécie de
meditação.
Há espécies de árvores que são mais usadas para fazer os bonsais,
devido ao tipo de folhas e ao seu impacto visual, mas na verdade qualquer
árvore pode ser convertida num bonsai. Tanto
a copa das pequenas árvores como as suas raízes são podadas, para que se
mantenham nestes pequenos vasos e também para que a sua folhagem seja distribuída
da forma que se pretende.
A arte dos bonsais disseminou-se de tal forma que por volta
do ano de 1940 já haviam cerca de 300 negociantes destas árvores em miniatura
em Tóquio, no Japão, cerca de 150 espécies de árvores que eram cultivadas com
este fim e milhares destas eram exportadas para os Estados Unidos e para a
Europa.
Hoje há centenas de livros sobre bonsais, revistas,
materiais específicos e viveiros a eles dedicados em todo o mundo.
Uma destas árvores que ainda é viva e que se pensa ser das
mais antigas em existência, tem cerca de 500 anos, está no Palácio Imperial de
Tóquio e é considerada um ‘tesouro nacional do Japão’.
O budismo também teve influência nos jardins tradicionais
japoneses. Em qualquer sociedade, o tipo de vegetação e de jardins que existem
está relacionado com o clima e com a vegetação da sua zona em específico, mas
os jardins japoneses para além da componente estética também têm uma componente
filosófica.
Há uma série de elementos que devem fazer parte destes
jardins:
- a água, que até nos jardins secos está lá representada
através dos seixos, deve ter um local especifico para ser colocada, para que
atraia a boa sorte;
- as pedras e a areia, que dependendo da forma como são
colocadas podem representar o céu, a terra e a humanidade;
- pontes, simbolizam a
passagem para o paraíso e a imortalidade;
- lanternas e bacias de pedra, em que as lanternas
tradicionais em formato de pagode representam a cosmologia budista – a base
representa o chi (terra), a parte seguinte o sui (água), a tampa é o ka (fogo)
as duas últimas secções representam o fu (ar) e o ku (espirito) – e as bacias
foram introduzidas nos jardins para que as pessoas lavassem as mãos e a boca
antes da cerimónia do chá;
- vedações;
- árvores e flores – plantas como a flor de lótus, sagrada no
budismo, e o pinheiro, que representa a longevidade, costumam estar presentes;
- e os peixes, um
elemento decorativo que também foi trazido da China.
Estes jardins têm a sua origem na religião japonesa Shinto
(o caminho dos deuses), onde devem estar recriadas 8 ilhas perfeitas e os lagos
dos deuses; as rochas representam as tartarugas e as garças. As pedras e a água
também podem ser representações do Yin e do Yang, energias que se complementam.
Embora eu prefira os
jardins ingleses com as suas flores silvestres, ou os nossos malmequeres e
papoilas que dão cor aos nossos campos no Verão, e não seja muito adepta de
tentar controlar a natureza, o que eu acho que me atrai nesta espécie de arte,
é o seu factor poético e a calma que transmitem.
E vocês, o que acham?
Sejam felizes sempre,
Sara
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