Quem diria que dar à luz podia ser divertido?


Quem acha que a brincar não se aprende, não sabe do que está a falar. Aprende-se e muito!
Fiquei fascinada quando vi as bonecas feitas à mão da Adriana. São diferentes de tudo o que já vi até hoje.

Para além de terem um ‘sorriso’ e um ‘olhar’ luminosos, elas também podem ser um recurso para ensinar às crianças de onde vêm os bébés e como se amamentam.

Nos dias de hoje, em que há uma onda crescente de mulheres a optar por ter um parto mais natural e com mais harmonia, estas bonecas de tecido são o complemento ideal para quem já tem filhos e está à espera de mais.

A Adriana Guerra, a cara por detrás da ‘Mamamordolls’, tem 47 anos e reside em Alberta, no Canadá, e aceitou falar-nos um pouco mais sobre a sua arte.

Adriana a trabalhar numa das bonecas


Qual a origem do nome ‘Mamamordolls’?
Adriana Guerra (AG): MamAmor é a combinação de duas palavras espanholas: Mama (mãe, mamã) + Amor.

Foi a Adriana que desenhou o seu logo?
AG: O meu cunhado é designer gráfico e nós trabalhamos juntos para fazer o logo, escolher as cores, etc.

Mencionou que tinha começado a fazer ‘bonecas de dar à luz’ feitas à mão, quando estava grávida do teu terceiro filho; por quê que sentiu essa necessidade?
AG: Há uns anos atrás, quando estava a aprender a ser Doula, o meu professor mostrou-me uma ‘boneca de dar à luz’ do Brasil. E eu pensei ‘que grande ideia’ e decidi fazer uma para os meus filhos, com 4 e 6 anos na altura. Fiz a boneca para uso pessoal mas imediatamente percebi que havia uma necessidade quando as minhas colegas Doulas, e outros amigos, começaram a fazer encomendas. E nunca mais parei de fazer bonecas.

O que é uma Doula?
AG: A Doula é um assistente/treinador/companheiro de parto não médico na altura de dar à luz. Providencia educação, informação, apoio emocional e conformidade física à mãe antes, durante e após o parto. As Doulas trabalham com todo o tipo de famílias e em todos os tipos de cenários – parto em casa, no hospital, etc.

A aprender enquanto se brinca


Acha que se mostrarmos às crianças como é que um bébé nasce, que elas terão menos medo quando a sua mãe for dar à luz?
AG: O parto pode ser muito intenso. As crianças e os adultos podem ter medo, dependendo da sua personalidade e preparação prévia. Eu acredito que se falarmos com os nossos filhos desde tenra idade sobre o parto e tudo o que o envolve como algo de natural na vida, a criança vai estar mais preparada para isso. Quando chegar a altura de serem pais, o conhecimento prévio vai ajudá-los a se sentirem mais confiantes e mais abertos a quererem saber mais sobre as opções de parto. Não tenho a certeza se vão ter menos medo, mas certamente vão estar educados e preparados, o que pode reduzir o medo e a probabilidade de fazerem más escolhas.

Reparei que trabalha com outros artesãos que estão em países diferentes; como surgiu essa ideia? É difícil trabalhar com outras pessoas que não estão por perto?
AG: Eu conheci os artesãos pessoalmente mas a maioria daqueles com quem trabalho, conheci online. Já faço isto há quase 10 anos e a maioria dos artesãos que conheço são de outros países e agradeço à internet por me possibilitar conhecê-los. Desde o Etsy a grupos de artesãos  e a fóruns, as possibilidades de nos ligarmos a outros artesãos não tem limites.

Que artistas te inspiram?
AG:  Adoro o trabalho da Chrissy Butler, Amanda Gravette e da AmyHaderer.

Tem algum background em Artes?
AG: Faço coisas desde muito nova, desde coser a fazer crochet ou macramé, tudo o que possam imaginar! Considero-me uma artista autodidata.

Trabalha a tempo inteiro como artista/artesã?
AG: Sim, embora recentemente tenha começado a trabalhar noutros projectos – redes sociais para pequenos negócios e a implementar um programa de Costura para mulheres imigrantes na minha comunidade.

Com que tipo de materiais trabalha? Por quê?
AG: Eu uso algodão, feltro e uma variedade de outros materiais, mas o meu preferido é a lã. Eu uso a lã para o cabelo das minhas bonecas de uma cooperativa de mulheres no Uruguai chamada Manos del Uruguay’. Elas têm a melhor lã; adoro as cores e as texturas e gosto de as apoiar.

O que é que pretende transmitir com a sua arte?
AG: As minhas bonecas representam as mães de todo o mundo quando dão à luz e amamentam, e são feitas para normalizar estes actos. Elas são bonitas e educativas ao mesmo tempo.

Os seus filhos querem brincar com as suas bonecas?
AG: Os meus filhos mais velhos já são adolescentes, mas a minha filha mais velha tem 9 e às vezes brinca com elas. Ela ajuda-me a vesti-las e a arranjar-lhes o cabelo. Ela está habituada às minhas bonecas desde que nasceu, por isso é algo que já é normal. Ela tem a sua própria boneca chamada Violeta.

Onde vende maioritariamente o seu trabalho?
AG: Eu vendo as minhas bonecas online e em conferências relacionadas com o parto e a amamentação, e em eventos organizados por doulas, parteiras, educadores para o parto e consultores de lactação.

Não têm sorrisos lindos?

É difícil equilibrar o tempo que passa a fazer o seu trabalho artístico e o tempo que tem de passar nas redes sociais a promovê-lo?
AG: Sim, é difícil. Neste momento, tenho duas mães que me ajudam e trabalham nos corpos, no cabelo e na roupa das bonecas, e assim tenho mais tempo para trabalhar no meu negócio. As redes sociais são um óptimo lugar para promover as minhas bonecas, mas consomem bastante tempo.

 Também tem um blogue; sobre que tipo de assuntos escreve?
AG: Na maioria são artigos que falam sobre a preparação para a vinda de um irmão, embora também escreva sobre o parto e a amamentação em geral.

Que rede social prefere? Por quê?
AG: Prefiro o Instagram porque sou uma pessoa visual, gosto mais de imagens do que de palavras. No entanto, eu uso bastante o Facebook para partilhar artigos, vídeos completos e para promover e vender as minhas bonecas directamente da página.

Que método acha que é melhor para ter mais seguidores?
AG: Acho que a melhor forma é a consistência em postar conteúdo de qualidade, embora cada plataforma tenha os seus truques. Eu aprendi que temos de nos manter actualizados com as novidades de cada aplicação porque os algoritmos estão sempre a mudar. As ofertas e as colaborações ajudam bastante, mas por outro lado a qualidade dos seguidores pode ficar comprometida.

Acha que mais seguidores, equivale a mais vendas?
AG: Acho que não. O que importa é a qualidade e não a quantidade. Acho que é difícil ter seguidores de qualidade nos dias de hoje, o mundo online está demasiado cheio de gente e as pessoas ficam assoberbadas. O que está a dar agora é ganhar seguidores de qualidade através dos grupos do Facebook; podemos ter menos seguidores mas com mais qualidade.

Participa em feiras de artesanato? Se sim, quais?
AG: Já tentei feiras no passado, mas não eram o local ideal para as minhas bonecas. O meu mercado target pode ser encontrado nas feiras, mas em pequena percentagem. A maioria dos meus compradores estão em eventos relacionados com o parto, a amamentação e roupa para bebés.

Inventa nomes e personalidades para as suas bonecas feitas à mão quando as está a criar?
AG: Sim. Quando elas já estão prontas para as fotografias, penso em nomes para elas que normalmente me vêm à mente bastante rápido. No entanto, quando não estou muito inspirada, pergunto às pessoas no Facebook e no Instagram se têm ideias ou sugestões; as pessoas adoram dar nomes às bonecas e têm boas ideias para os nomes.


Que conselho pode dar a artistas/artesãos que estejam agora a começar a tentar viver da sua arte?
AG: Se realmente amam aquilo que criam, devem continuar a criar. É perfeitamente possível viver da sua arte, só têm de perceber qual a maneira de ganharem dinheiro com isso, sem comprometerem o seu tempo e a qualidade do seu trabalho. Façam aquilo que são bons a fazer e contratem outras pessoas – que sejam boas naquilo que fazem – para vos ajudarem a vender a vossa arte; esta é uma boa fórmula de sucesso.

Podem seguir o trabalho da Adriana através das suas redes sociais:

Se quiserem saber mais sobre as Doulas, vejam o trabalho da Sara do Vale em www.saradovale.com , ela é uma grande mulher a fazer um trabalho incrível a ajudar as mamãs e os seus filhos como Doula e também através da associação que fundou – Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e no Parto.

Sorriam por dentro para sorrirem por fora e sejam felizes,

Sara 

PS Todas as fotos são da 'Mamordolls'

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