Agarrem-se aos vossos chapéus de chuva e venham conhecer a Carina - uma entrevista
Sempre que penso na Argentina, a minha mente vai logo para a
Patagónia e a sua vida selvagem mas também para as cores fortes. Mas é muito
mais que isso.
Acho que é isso que também me lembra o trabalho da Carina
Povarchik, uma mistura do preto e branco e da seriedade da pintura e as cores
fortes e alegria das suas ilustrações.
A Carina tem 39 anos e vive em San Rafael, uma cidade da
Argentina bem conhecida pelas suas
vinhas, as suas montanhas e pelo rio Diamante que a atravessa.
A Carina é tão simpática que concordou logo em ser
entrevistada e deu grandes conselhos àqueles que adoram as artes e gostavam de
viver delas. Vamos conhecê-la…
Qual a origem do nome
‘Catru’?
Carina Povarchik (CP): Quando eu
nasci os meus pais queriam chamar-me Catruska, um nome ucraniano, mas não era
permitido na altura. Um dos meus primos – com quem partilhei casa durante
vários anos enquanto era pequena - começou a chamar-me Catruska. Eu cresci e
Catru era uma alcunha gira para uma adolescente, e os meus amigos adoravam.
Depois cresci e passei a ser alguém que estava todo o dia ao computador, e
Catru era sempre um nome fácil para abrir uma conta online. É pequeno, fácil de
lembrar e normalmente está disponível. E ainda me lembra de outros tempos.
Desenhou o seu
próprio logo?
CP: Sim.
Quando começou a
pintar?
CP:Sempre tive
alma de artesã. Desde sempre. Eu pintava coisas abstractas e vendia na rua
quando tinha 5 anos. Sempre adorei criar, desde coisas, peças de arte ou
programas de computador. Pintar é só uma outra forma de criação. Pessoalmente,
estas palavras não são minhas, mas o caminho de um artista é lembrar os outros
da beleza que os rodeia.
Que artistas a
inspiram?
CP:Pintores
impressionistas como Monet, Bangho, Kandinsky, Da Vinci entre outros grandes mestres. E também
adoro muita arte contemporânea. Há arte por aí que é muito espectacular.
Tem algum background
em Artes?
CP: O meu
background é em computadores. De há 4 anos para cá tenho tido aulas de desenho
e retrato privadas com um artista local. Sempre que o meu orçamento me permite,
faço vários cursos online de ilustração digital e de coisas relacionadas com
ilustração infantil. O desenho de retratos tem sido fundamental para eu
aprender artes.
A Carina a trabalhar no seu estúdio |
Trabalha a tempo
inteiro como artista?
CP: Ainda não,
embora seja o meu desejo, claro, mas por agora tenho outro trabalho: ensino
numa universidade local sobre computadores.
Que tipo de materiais usa no seu trabalho? Por quê?
C: Eu adoro vários materiais. Como ilustradora infantil
normalmente trabalho digitalmente, com um Wacom Cintiq.
O livro que ilustrei
recentemente, ‘Shimmer’ – escrito por Raven Howell e publicado por Clear Fork
Publishing – foi feito de forma inteiramente digital.
Também gosto de pintar com tinta acrílica e tinta indiana
quando faço os meus cadernos. E adoro aguarelas e esculpir em pequena escala
com barro de moldar que seca ao ar. E gosto da sensação que transmitem os lápis
verdadeiros e os retratos a grafite.
No futuro gostava de usar outros materiais?
CP: Estou sempre a
experimentar coisas novas, faz parte de mim o ter de variar. Mas também sou
muito práctica e o digital é uma ferramenta incrível. Por isso, mesmo adorando
fazer esboços e desenhos com materiais reais, não sei se os incluiria nos
trabalhos por encomenda, a não ser que fossem encomendas locais.
O que é que quer
transmitir com a sua arte em geral?
CP: Essa é fácil:
alegria, felicidade, um coração leve.
Por quê a ilustração infantil?
CP: Porque as crianças sabem como brincar. Para elas tudo é
possível. Um crocodilo a voar no céu enquanto canta e usa uma mochila? Sim,
claro que é possível para elas. Adoro as suas mentes e os seus corações e o
facto de elas serem o que temos de mais valioso. O meu mantra é ensinar as
pessoas a terem magia para alimentar as suas almas.
O que deve fazer um
novo artista que queira ilustrar livros para crianças? Como é que o conseguiu
fazer?
CP: Eu ainda o
faço há muito pouco tempo, e por isso tenho tentado aprender o mais rápido que
posso. Pessoalmente acho que arranjar um agente é fundamental. Já ouvi dizer
que é muito mais difícil entrar no mercado sem agente. Os agentes têm os
conhecimentos e conhecem os directores artísticos, editores, autores.
Eu tive
muita sorte em ter arranjado o meu através do Twitter. Foi a ela que me
arranjou dois trabalhos e ainda não estamos juntas nem há um ano. Tentem
expor-se; há muitos eventos online bem divertidos.
Tornem-se visíveis e interajam com outros artistas que
admiram, mostrem o vosso trabalho. Liguem-se a tudo o que estiver relacionado
com livros infantis. Leiam muitos livros de criança se puderem. Há tantas
histórias e ilustradores maravilhosos.
Se já tiverem um portfolio em ilustração
infantil, considerem juntar-se a organizações como a Society of Children Book Writers and Illustrators (SCBWI) - Sociedade dos Escritores e Ilustradores de Livros para Crianças. Se
puderem vão às suas reuniões, é uma forma de se relacionarem com as pessoas do
meio.
O Salvador Dali aqui retratado pela Carina |
Faz retratos
maravilhosos; como é que combina os dois tipos de desenho?
CP: Obrigada. Eu
penso que desenhar retratos tem sido fundamental para melhorar o meu
desenho/ilustração. Mesmo que o meu estilo de ilustração seja muito solto e
desajeitado, eu sei que consigo ilustrar coisas que antes não conseguia. Quando
temos de desenhar rostos, temos mesmo de treinar o olho para ver formas,
volume, sombras, luz, proporções. Os artistas dizem constantemente: é preciso
aprender a desenhar para se fazer qualquer tipo de boa arte.
Onde vende
maioritariamente o seu trabalho?
CP: Eu vendo em
vários sítios. Os cadernos feitos à mão vendo em feiras locais; os meus
desenhos e quadros originais normalmente vendo localmente; a minha ilustração
digital é vendida online. Vendo impressões através do meu site e da minha loja no Etsy, e também tenho uma loja no Society6.
Às vezes recebo encomendas através do Facebook e depois coloco-as na loja
no Etsy.
É difícil equilibrar
o tempo que gasta a fazer a sua arte e aquele que perde nas redes sociais a
promove-lo?
CP: Sim, já perdi
muitos anos online a aprender como o fazer. E ainda não sei se o faço bem.
Tenho a certeza que há uma maneira certa de o fazer, e depois todas as maneiras
em que o vamos fazendo enquanto aprendemos. Sinto que ainda estou a aprender.
Que redes sociais
prefere e por quê?
CP: Depende. Os
meus preferidos são o Instagram, Twitter e o Facebook.
Eu uso o Instagram para mostrar não só os estilos que faço, mas também
algumas fotografias pessoais e algumas de bastidores. As páginas de Facebook
uso mais para mostrar a minha ilustração infantil.
O Twitter uso
essencialmente para contactar com outros ilustradores e outras pessoas do
negócio. A minha agente literária conheci-a através do Twitter. Eu acho que esta
rede social é o local perfeito para nos relacionarmos com pessoas dentro do
mesmo conteúdo. E ainda existem passatempos muito divertidos onde participar.
Os meus fãs são mais activos no Facebook. As pessoas
adoram partilhar e ver as nossas coisas e há muita gente a usá-lo. O Instagram
é perfeito para portfolio. As
pessoas conseguem ver as tuas fotografias num abrir e fechar de olhos. Claro
que há artistas que só usam o Instagram para mostrar o seu estilo
profissional e outros, como eu, que gostam de mostrar um pouco da sua vida
pessoal.
Que método acha
melhor para ganhar mais seguidores?
CP: Daquilo que
aprendi até agora, e de acordo com aquilo em que acredito, eu não envio spam.
Em segundo lugar, não faço posts demasiado mecânicos e genéricos. E tento
postar duas a três vezes por semana, para ter alguma frequência. Embora tenha
de melhor um pouco.
No Twitter ganhei bastantes seguidores
por fazer eventos relacionados com ilustração, que eu considero que são
divertidos de se participar. Não só ganho mais seguidores, como também conheço
pessoas incríveis para seguir. No Instagram e no Facebook não sei bem.
Acredita que quantos
mais seguidores, mais vendas?
CP: Seguidores
activos sim, aqueles que são mesmo fãs do teu trabalho. Aqueles que acabam por
gostar de ti e do teu trabalho, esses são preciosos. E aí faz sentido, quanto
mais pessoas alcanças e te vêm, maior é a chance de ter vendas online.
Participa em feiras?
Quais?
CP: Sim, vou a uma
feira na minha cidade, San Rafael, há cerca de quatro anos todos os
fins-de-semana, e no Verão chego a ir todos os fins-de-semana. Também existem
muitas feiras de artesanato pelo país fora, que duram cerca de 10 dias, que
também são boas. Depende da minha energia e de quantas coisas tenho para
vender.
Que conselho deixa a
novos artistas/artesãos que queiram viver da sua arte?
CP: Perseverança. E que melhorem constantemente o que fazem.
É um caminho difícil e cheio de incertezas, mas também cheio de alegria e de
satisfação.
Podem seguir o trabalho da carina através dos links abaixo:
www.catrusweetart.etsy.com
www.society6.com/catru
www.instagram.com/catru
Sejam felizes e sorriam,
Sara
Nota: Todas as fotografias são da autoria da Carina e
ilustram algumas das suas obras.
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