Poesia em aguarela e tecido - entrevista a Jennifer Ross


'The Dreamers' (Os sonhadores) de Jennifer Ross


Já alguma vez viram um crocodilo? Quer dizer, um crocodilo verdadeiro à vossa frente e não num jardim zoológico? E tubarões? Bem, eu nunca vi nenhum deles no seu habitat natural e não sei bem como reagiria se os visse…

A Austrália é um país de grandes contrastes: tem vegetação, humidade, desertos e zonas áridas, grandes cidades, sítios mais frescos e praias incríveis. E por esta razão sempre achei que os australianos têm de ser muito resilientes, para conseguirem aguentar todos estes extremos. E sempre com um sorriso nos lábios.

De certa forma, para mim, a Jennifer Ross, tem um pouco de tudo o que mencionei acima. Claro que não a conheço em pessoa, só através das redes sociais e um pouco mais depois da entrevista que ela aceitou fazer comigo.

A Jennifer, ou Jenn como prefere ser chamada, recentemente fez 50 anos e não parece nada. De qualquer forma, ela mencionou que está muito contente em ter esta idade porque ela depois de ter tido cancro da mama, passou a dar muito mais valor ao facto de estar por cá com a sua família e amigos. Mas vamos conhecê-la um pouco melhor e por quê que ela criou o nome ‘Winter Owls’… 

Rio Yarra, austrália, como o vê a Jennifer
Onde vive?
Jennifer Ross (JR):Vivo em Melbourne e sou mesmo uma rapariga de Melbourne, adoro a minha cidade. É muito multicultural e há sempre algo de interessante para ver ou fazer. Vivo perto do rio Yarra e uma zona de vegetação. E nunca deixa de me inspirar. É incrível viver no meio de antigos armazéns industriais e ao mesmo tempo ter tudo isto aqui também. Até existe uma quinta pedagógica a poucos minutos daqui.

Coruja das Torres pintada pela Jennifer


Qual a origem do nome ‘Winter_Owls’?
JR: ‘Winter Owls’ (corujas de inverno) surgiu quando estava a fazer tratamento para o câncro. Estava sentada lá fora, e vi duas corujas na nossa velha macieira. Elas estiveram lá durante alguns dias, ao sol do inverno e observamo-nos umas às outras. Comecei a pintá-las a acrílico e descobri que me perdia no processo, que esquecia tudo o resto que se estava a passar. A pintura trazia-me muita paz. E também comecei a fazer vários bonecos de peluche de tecidos vintage – como chenille, camisolas de lã e cobertores. Já não os faço há algum tempo, parece que a pintura tem chamado mais por mim.


Jenn Ross


Tem algum background em artes?
JR: Sou professora de artes e comecei por dar aulas a alunos do secundário. Agora ensino part-time arte e ler e escrever a alunos com dificuldades de aprendizagem, o que gosto bastante. Eles ensinam-me algo todos os dias.

Utiliza materiais específicos quando pinta?
JR: Nos últimos anos mudei de tintas acrílicas para aguarelas. Tem sido desafiante, muitas pinturas vão para a pilha dos rascunhos mas estou constantemente a aprender e fico ‘eléctrica’ quando faço um com o qual fico mesmo contente.

É difícil equilibrar o tempo que passa a fazer a sua arte com aquele que passa nas redes sociais a promove-lo?
JR: Promover o nosso trabalho nas redes sociais é um desafio. Eu tenho um blogue, uma conta de Instagram e de Facebook que infelizmente têm sido negligenciados. Eu gostava mesmo era de passar o meu tempo todo dedicada à minha arte, mas assim ninguém ia ver o meu trabalho. E tem sido maravilhoso saber o que os outros pensam das minhas criações e receber os comentários encorajadores e de apoio. As redes sociais podem-nos envolver numa comunidade de pessoas que pensam da mesma maneira e que nos podem dar alegria e com quem podemos aprender também.


Um dos cartões da Jenn


Que tipo de embrulho é que os seus clientes podem esperar quando lhe encomendam algo?
JR: Quando é enviada uma encomenda da ‘Winter Owls’ ela vai embrulhada em papel kraft e washi tape. Tenho andado a pensar em fazer o meu próprio carimbo para colocar do lado de fora do embrulho.

Já alguma vez participou numa feira de artesanato? Se sim qual?
JR: Já fiz algumas feiras mas não posso dizer que tenha gostado. Fiz algumas no exterior em que tudo voava, e os meus joelhos ficavam todos doridos de tremerem com o vento frio. Vender online faz mais o meu género.


A Minnie, um dos koalas feitos pela Jennifer

Tem alguma história engraçada relacionada com o seu trabalho que queira partilhar connosco?
JR: Já me aconteceu espalharem gelado no meu trabalho, e ser atropelada por carrinhos de brincar de crianças mas o mais engraçado foi o ‘cheirador de corujas’. Eu tinha feito corujas de brincar com cobertores reciclados e vi um homem a cheirá-los. Posso garantir-vos que todo o material vintage que uso é lavado antes de ser usado!

Que conselho é que quer deixar a nos artistas/artesãos que estejam a tentar viver da sua arte?
JR: Esta é uma pergunta difícil! Ainda ando a tentar perceber isso. Podia-se escrever um livro sobre este assunto e na verdade, existem livros sobre este assunto. Eu tenho semanas fantásticas em que a acho que posso mesmo viver disso e depois, nada durante uma semana ou duas. Acho que para a maioria das pessoas não vai ser um sucesso de um dia para o outro. Vão ter de aprender tantas coisas que pode até ser assoberbante no princípio. Não deixem que isto vos impeça de fazer algo. Façam uma lista e conquistem uma coisa de cada vez.


Uma pequena colecção de aguarelas feita pela Jenn


Espreitem a conta do Instagram da Jenn e sintam as cores e imaginem os cheiros do sítio onde ela vive, que depois se transportam para a sua arte, seja ela a pintura ou os bonecos de tecido. 

E se gostam do ar livre e da natureza, vão adorar a loja dela no Etsy.

E aposto que depois de verem as suas criações vão ficar com um sorriso nos lábios.

E como todos sabemos, um sorriso pode mudar o mundo,

Sara  

Nota: Todas as imagens aqui apresentadas são da autoria da Jennifer Ross e também representam o seu trabalho.

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