Natureza feita de borracha e tinta – entrevista a Viktoria Åström
De alguns anos para cá, que
ando com muita vontade de visitar a Suécia. Claro, numa altura em que desse
para andar de um lado para o outro, sem que houvesse muita neve.
Confesso que não sei muito
sobre o país, e tenho andado em busca de um livro que explique um pouco sobre a
História dos países escandinavos.
Por isso, não fazia a mínima
ideia que havia um local chamado Öckerö, uma ilha na península nos arredores de
Gotemburgo.
A Viktoria com o seu cachorrinho |
Nesta pequena ilha existe um
mundo natural imenso para explorar, e é isso que faz a Viktoria Åström através
do seu trabalho.
A Viktoria tem 40 anos e é
ilustradora, faz gravuras, através dos seus carimbos de borracha originais
feitos à mão, e faz animação.
Quando descobri a sua conta
no Instagram,
@viktoriaastrom, pensei logo que um dia quando ‘fosse grande’ gostava
de conseguir fazer o que ela faz.
Gravura em celebração de Santa Lucia feita por Viktoria |
Adoro a simplicidade aliada
ao detalhe, as cores que usa e a emoção que transmite.
E não é que ela aceitou ser
entrevistada por mim? Vamos então conhecê-la um pouco melhor…
O seu logo foi desenhado por si?
Viktoria Astrom (VA): Sim, sou eu que desenho todo o meu material.
Por que razão começou a fazer ilustração e gravura
VA: Eu gostava de trabalhar com o linóleo mas queria experimentar algo diferente. Até que encontrei um livro
sobre gravura em borracha e fiquei siderada.
Que artistas a inspiram?
VA: Charley Harper, EdwardGorey, Wayne Thiebaud só para nomear alguns. O Mark Hearld é outro dos meus
favoritos.
Tem algum background
em Artes?
VA: Não, não andei numa escola de artes mas tenho um certificado em animação
feita à mão pela Central Saint Martin’s em Londres. Tenho desenhado toda a minha
vida e sempre foi o meu maior interesse.
Trabalha a tempo inteiro como artista/artesã?
VA: Sim.
Prefere trabalhar como freelancer ou preferia
trabalhar por conta de outrem?
VA: Definitivamente prefiro ser freelancer. Mas dou muito valor à experiência
que ganhei dos meus empregos de tempo inteiro.
Aguarela feita pela Viktoria que representa a paisagem perto da sua casa |
Acha que o facto de viver na Suécia com lindas
paisagens campestres que inspira o seu trabalho?
VA: Sim, definitivamente! Desenho muitos motivos da natureza e inspiro-me nos
animais e no que me rodeia. O lugar que mais me inspira é Dalsland, onde os meus
pais têm uma casa de campo.
Como é que começou a ilustrar livros? Contactou
directamente as editoras ou foram os autores a contactarem-na?
VA: As duas coisas, mas ainda não foram publicados.
Utiliza marcas específicas para trabalhar?
VA: Quando faço gravura prefiro usar as ferramentas da Pfeil e as placas de
borracha da Speedball. Outras marcas que uso muito para desenhar e pintar
são a Canson, Winsor & Newton e a Staedtler.
É possível ver alguma das suas animações online?
Onde?
VA: Existe uma produção para
a qual trabalhei em http://www.sluggerfilm.com/melker
Uma das aguarelas feitas pela Viktoria |
Onde vende maioritariamente o seu trabalho?
VA: Na minha loja online no Etsy.
Que tipo de embrulho é que os seus clientes podem esperar quando lhe fazem
uma encomenda?
VA: Eu adoro embrulhar, por
isso perco muito tempo no embrulho. Embrulho as minhas peças com muito cuidado
para que não se danifiquem e incluo sempre um pequeno presente feito à mão com
uma mensagem personalizada. Eu adoro receber embrulhos com um toque pessoal,
por isso tento fazer o mesmo.
É difícil equilibrar o tempo que dedica à sua arte e o tempo que tem de
dedicar às redes sociais para a promover?
VA: Sim, é difícil. De
momento limito-me ao Instagram porque consome muito tempo
responder a todas as questões e comentários. Eu não quero só publicar
fotografias e não responder às pessoas. Eu
tento responder sempre que possível, mas às vezes acontece mensagens
importantes se perderem no meio de uma corrente de ‘likes’ e comentários que surgem numa conta grande.
Que rede social prefere? Por quê?
VA: Eu prefiro o Instagram. É muito bom se se for um artista. É mais visual que
o Facebook.
Que método acha que é o melhor para ter mais
seguidores?
VA: Eu costumava postar algo todos os dias até há muito pouco tempo, e
conseguia perceber que fazia muita diferença. Eu trabalho em muitos projectos
que não posso mostrar de momento no Instagram. Eu passo muito tempo a
tirar as minhas fotografias, para ter a certeza que têm boa luz natural e um
bom ângulo. Se a luz não for a certa, adio o post até a apanhar como quero.
Também planeio os meus posts com antecedência para saber no que tenho de me
focar.
Acredita que mais seguidores leva a mais vendas?
VA: Não necessariamente.
Participa em algumas feiras? Se sim, quais?
VA: Há uma feira de artesanato nas ilhas na qual participo uma vez por ano, chama-se ‘Konstvågen’.
Acha que é mais fácil estar numa feira de
artesanato e conhecer os seus clientes pessoalmente, ou prefere vender o seu
trabalho online?
VA: É bom conhecer os clientes pessoalmente. Gosto de saber um pouco mais sobre
para onde é que a minha arte vai. Mas muitas vezes tenho uma relação pessoal
com os clientes através do Etsy ou do Instagram. Mais do que
aquilo que pensava. Recebo cartas de agradecimento e fotografias do meu
trabalho nas suas paredes. Faz-me sempre ganhar o dia.
Carimbo de borracha feito à mão com o tema do arenque |
Tem alguma história engraçada relacionada com o
seu trabalho que queira partilhar connosco?
VA: Uma vez vendi um arenque gravado à mão para um local no Alasca. A
comunidade tinha um festival do arenque e quiseram comprar o meu que estava no Instagram,
para que o pudessem imprimir em tecido. Normalmente não vendo os carimbos mas
adorei o facto do meu arenque ir ter um festival só seu :)
Que conselho
deixa aos novos artistas/artesãos que querem viver da sua arte?
VA: Não se deixem levar muito por aquilo que os outros acham da vossa arte. É
fácil acharem que não têm muito para contribuir e não acreditarem que vai
conseguir. Pelo menos era isso que pensava quando comecei. Não o façam a meio
gás, atirem-se de cabeça.
Adoro ver o processo de construção de uma das suas peças. Muitas vezes, nem imaginamos que uma imagem contém uma série de gravuras, que conjugadas se completam e fazem magia.
Muitos sorrisos e alegria,
Sara
Nota: Todas as fotografias são de Viktoria Åström
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